A vitória da direita nas eleições parlamentares na Alemanha não foi propriamente uma surpresa. A crise econômica que se arrasta há vários anos, em grande parte por causa de seu apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia, somada a indiferença das elites à questão da imigração ilegal e à adesão da esquerda liberal ao liberalismo econômico, à globalização e à destruição do estado de bem-estar social, propondo como forma de luta e transformação social as políticas identitárias, o cosmopolitismo, a ecologia sem justiça social, a dissolução dos Estados nacionais em organizações globais e a multiculturalidade com imigração descontrolada induzida por máfias, filantropos e o poder empresarial, ainda que disfarçada de modernidade, só serviu para aprofundar a divisão na sociedade alemã abrindo caminho para a extrema-direita. Sem isso, não haveria Donald Trump nos Estados Unidos, nem a AfD, na Alemanha.
O que talvez surpreenda foi a ascensão meteórica da AfD, partido da direita radical que até pouco tempo era um partido marginal, visto com reservas na sociedade alemã por suas ligações com lideranças e movimentos neonazistas. Sustentando bandeiras antiliberais, defendendo o conceito tradicional de família, um nacionalismo xenófobo e a rejeição aos imigrantes, a AfD, liderada por uma mulher lésbica, casada com uma imigrante do Sri Lanka e morando na Suíça por não se sentir segura em seu próprio país, foi o segundo partido mais votado, ficando atrás apenas da direita tradicional, representada pela Democracia Cristã (CDU/CSU), a quem caberá a formação do novo governo.
Das 630 cadeiras em disputa no parlamento alemão, a coalização de direita CDU/CSU obteve 28,5% dos votos e 208 cadeiras. Em segundo lugar veio o partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) com 20,8%, obtendo 152 cadeiras. O atual partido no governo, a SPD, o Partido Social Democrata Alemão, o segundo partido alemão mais antigo ainda em funcionamento, tendo completado em 2015, 140 anos, foi o grande derrotado das eleições, ficando atrás da AfD, com apenas 16,4% dos votos e 120 cadeiras. Os outros dois partidos que conseguiram ultrapassar a cláusula de barreira dos 5% dos votos foram os verdes com 11,6% dos votos e 85 cadeiras e o Die Linke (A Esquerda) com 8,7% dos votos e 64 cadeiras.
A Aliança Sahara Wagenknecht, dissidência do Die Linke obteve 4,97% dos votos e ficou fora do parlamento. Destaque-se, contudo, que Aliança Sahara Wagenknecht, fundado em 2024, com uma orientação de esquerda em economia, mas contrário à agenda de costumes da esquerda liberal e à imigração descontrolada, consegui uma votação apenas pouco abaixo do Die Linke (A Esquerda), sucessor do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) que governou a antiga Alemanha Oriental, ficando fora do parlamento por menos 0,3% dos votos. Da mesma forma que a AfD espera, nas próximas eleições tornar-se o principal partido da Alemanha, a Aliança Sahara Wagenknecht poderá vir a se tornar o principal contraponto à esquerda da extrema-direita alemã.