A Guerra na Ucrânia vista sob a ótica da geopolítica

Guerra e Paz, pintura de Peter Paul Rubens (Siergen, Alemanha, 1577-Antuérpia, Bélgica, 1640).

Da redação do Portal Bonifácio

Prestes a completar um ano, a guerra na Ucrânia é a manifestação cruenta de um processo muito mais profundo pelo qual o mundo passa neste início de século 21 que é a transição da ordem global marcada pela hegemonia dos Estados Unidos para uma nova ordem global multipolar, cujo centro de gravidade deslocou-se do Atlântico para o Pacífico.

Vista nesse diapasão, a guerra na Ucrânia vai muito além de uma disputa entre dois países cujo destino, história e geografia estão entrelaçados há séculos. Trata-se, na verdade, de uma linha de falha de um mundo prestes a passar por mudanças profundas, no qual a violência faz o papel de parteira de uma nova ordem global que quer nascer, em conflito com a velha ordem que resiste em morrer.

Não é por acaso que apesar de a Ucrânia ser o palco deste conflito, os principais atores envolvidos nessa disputa são, na verdade, os Estados Unidos e a Rússia. Também não é por acaso que o resto do mundo se dividiu de alto a baixo sobre qual lado apoiar. Mesmo rejeitando os horrores da guerra, a verdade é que a maioria esmagadora dos países em desenvolvimento, com o Brics à frente, torce veladamente pela vitória dos russos, enquanto o mundo rico alinhou-se incondicionalmente aos Estados Unidos. E isso se dá não porque os que torcem pelos russos o fazem por simpatia a Putin ou por antipatia aos ucranianos, mas porque, no fundo, pressentem que uma eventual vitória ucraniana significaria o prolongamento de uma ordem global com os Estados Unidos em sua cúspide que ninguém mais aceita.

Mesmo as trincas já observadas no seio da própria Otan em relação ao conflito também têm como pano de fundo essa mesma questão, uma vez que até os aliados europeus dos Estados Unidos já se deram conta de que nessa história toda os únicos que estão levando vantagens, vendendo armas e gás natural a preços inflacionados para a Europa são os Estados Unidos.  O governo de Zelensky é apenas um joguete nas mãos dos Estados Unidos e dos senhores da guerra do Ocidente e enquanto ele se prestar ao papel de sacrificar seu próprio povo e destruir seu país para dar sobrevida à hegemonia norte-americana em seu ocaso, estes continuarão de bom grado a colocar armas em suas mãos, não importando se para cada russo morto ou mutilado também morra um ucraniano.

Luís Antonio Paulino
Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Então o ocidente deveria simplesmente abandonar a Ucrânia, deixá-la ser dominada por um invasor muito mais forte e deixar o sangue de inocentes jorrar? Não faz o menor sentido.
    Vamos lembrar que toda guerra é uma barbárie e o errado é sempre aquele que a inicia. Essa guerra, em específico, foi causada pelo imperialismo russo que não consegue ver uma Ucrânia independente e forte em seu quintal. O mesmo aconteceu com a Geórgia, em 2008, e acontecerá em algum momento com Belarus.

    • Que o internauta Matheus me desculpe, mas da maneira como fala, é como se a Rússia, por um dia qualquer tendo acordado de mal humor, deu na telha de levar esse conflito a um novo grau. Sim, a um novo grau pois na verdade essa guerra vem desde 2014.

      E é curioso ver essa menção de abandono ou não das potências ocidentais como se ali existisse algum sentimento de fraternidade ou solidariedade pelo povo ucraniano, pois como qualquer pessoa um pouco mais bem informada sabe sobre a dinâmica de relacionamento que existe dentro das relações históricas da Europa entre si, não são poucos os casos e históricos de discriminações por razões étnicas e religiosas com a Europa oriental, no mais amplo caso de preconceito e racismo feito em plena luz do dia e sem peso na consciência.

      As próprias convenções de Minks, tanto a I quanto a II, nunca foram nada se não ganho de tempo para levar o conflito a esse estágio e a Ucrânia sendo prostituída como o Estado máfia que é, mais alcançando um novo patamar de gangsterismo e banditismo político, com experiências biológicas com cobaias humanas, biopirataria e genocídio deliberado. Hoje pode ser visto na cara da freguesia as declarações de Merkel, Hollande figuras de altas esferas do Pentágono sobre suas claras intenções e finalidades na questão russo ucraniana.

      Agora o que resta, e muito bem disse o articulista, é de que forma uma nova era multipolar surgirá: se seu nascimento será de agora em diante ou se ainda passará por uma gestação ainda mais longa, passando pela ascensão da China de uma vez por todas como potência global.

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