Renata Agostini e Julia Lindner / Agência Estado
Ministros do Mercosul e da União Europeia iniciam nesta quinta-feira,
27, em Bruxelas reuniões que, segundo fontes com conhecimento das
conversas, podem resultar, enfim, num acerto sobre o tratado entre os
dois blocos. O acordo vem sendo discutido há duas décadas. Restam poucos
pontos a serem definidos e, desta vez, há perspectiva real de
conclusão, na avaliação de integrantes do governo brasileiro.
O desfecho dependerá de decisões políticas por parte de ambos os blocos
e, por isso, fontes próximas aos negociadores pontuam que não se pode
descartar um novo adiamento como ocorreu em outras inúmeras vezes. O
clima, porém, é de otimismo do lado brasileiro O governo enviou a
Bruxelas o chanceler Ernesto Araújo, a ministra da Agricultura, Tereza
Cristina, e o secretário especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo.
Se concretizado, o acordo entre Mercosul e União Europeia representará
um marco. Será o segundo maior tratado já assinado pelo bloco europeu e o
mais ambicioso acertado pelo Mercosul. Ele levará à redução drástica
das tarifas de importação existentes hoje pelos blocos, o que deve
impulsionar vendas.
O objetivo final é que as taxas sejam eliminadas para até 90% do
comércio entre Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – e os
28 países da União Europeia. A princípio, os europeus zerariam as
alíquotas em até sete anos, mas a maior parte dos cortes será feita nos
primeiros dois anos. Já os brasileiros teriam até quinze anos para
retirar as tarifas, com boa parte eliminada antes de dez anos.
Em 2018, o Brasil exportou US$ 42 bilhões aos países da UE. Juntos, eles
representam o segundo maior mercado para os brasileiros no mundo, atrás
somente da China.
Há potencial de expansão dessas cifras. O acordo deve facilitar ainda a
exportação de serviços e o fluxo de investimentos entre os blocos, o que
pode ajudar o Brasil no curto prazo. “Será o início da reforma
esquecida, que é a abertura comercial. Os benefícios serão muitos, mas o
efeito imediato virá no aumento dos investimentos”, diz Carlos Langoni,
diretor do Centro de Economia Mundial da FGV.
Representantes dos europeus confirmaram ao Estado que houve
avanços significativos nas negociações, mas tentaram transmitir cautela.
Após tantas idas e vindas, avaliam que não devem criar expectativas na
população e precisam evitar ao máximo a percepção de algum tipo de
derrota para a União Europeia num momento em que o bloco enfrenta
percalços, como a saída do Reino Unido, conhecida como “Brexit”.
Entraves. Há duas semanas, o presidente Jair Bolsonaro afirmou
que o acordo estava prestes a ser concluído e citou acertos pendentes
com produtores brasileiros de laticínios e de vinhos. Esses setores
argumentam que sofrem concorrência desleal, já que os europeus recebem
subsídios e que, por isso, teriam de ficar fora o acordo. A tendência,
porém, é que figurem no tratado final.
Do lado europeu, ainda há pressão de França, Irlanda, Polônia e Bélgica
sobre questões relacionadas ao agronegócio. Esses países resistem a
autorizar a ampliação de cotas de importação para produtos como açúcar,
carne bovina e de frango. Para o sul-americanos, essa é uma
contrapartida essencial, já que os manufaturados europeus terão acesso
facilitado.
Representantes do agronegócio argumentam que os possíveis ganhos não se
restringirão a esses produtos. Haverá benefícios, por exemplo, para as
exportações de frutas, arroz, café, mel e outros itens.
“Estamos hoje isolados e muito atrasados no processo de abertura
Precisamos concluir o acordo”, diz Lígia Dutra Silva, superintendente de
relações internacionais da Confederação da Agricultura do Brasil (CNA).
A indústria vê no acordo a chance de impulsionar vendas em setores que
foram penalizados com aumento de tarifas nos últimos anos, como
vestuário e calçados, e ainda em itens como equipamentos de transporte e
produtos de metais e madeira.
“O acordo nos dá acesso à modernidade, a centros de inovação. Ele não se
esgota nas tarifas. Há reflexos positivos que vem com o tempo”, diz
Carlos Abijaodi, diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.