Adriana Fernandes, Anne Warth e Gustavo Porto / Agência Estado
 A Petrobrás terá de sair totalmente do mercado de gás natural e vender  as ações que detém nas empresas de transporte e distribuição. As  obrigações fazem parte de um acordo costurado pelo Conselho  Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a petroleira para suspender  um processo que investigava a atuação anticompetitiva da estatal no  mercado. A saída da Petrobrás do segmento é um dos pilares do Novo  Mercado de Gás, plano lançado ontem (24/6) pelo governo.
 O acordo será assinado amanhã, mas a cautela do governo ainda é grande  para que nada dê errado nessa etapa do pacote de medidas. Na avaliação  da equipe econômica, a participação da Petrobrás nesse mercado tem sido  um obstáculo à competição e à queda do preço do insumo.
 A Petrobrás não é a única produtora de gás do País, mas sua presença e  atuação no mercado é quase absoluta. Dona da maioria dos gasodutos de  transporte do País, a companhia anunciou a venda de parte de sua malha  no Sudeste – NTS e TAG -, mas manteve contratos que preveem o uso de  toda a capacidade dos dutos para injeção de seu próprio gás. 
 Nesse cenário, as concorrentes não conseguem acessar aos dutos. Por  isso, são obrigadas a vender sua produção para a Petrobrás. Quem quiser  importar gás também precisa negociar com a estatal, que é dona de todas  as unidades que processam o produto trazido por navios. Essas condições  fazem com que a companhia, na prática, seja a única fornecedora do País
 Procurada, a Petrobrás informou que vai aguardar a publicação da  resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) no Diário Oficial para comentar o assunto.
Congresso. Uma das preocupações do governo é com a recepção do  pacote de medidas no Congresso. Para evitar atritos, o ministro de Minas  e Energia, Bento Albuquerque, vai hoje ao Senado e amanhã à Câmara. Ele  vai sugerir possíveis mudanças na lei que deverão ser feitas pelo  Legislativo. Uma delas é a aprovação da alteração no regime de  exploração dos gasodutos para o modelo de autorização – hoje, são  concessões. “Vamos apresentar o que entendemos que tem de ser  aperfeiçoado na legislação”, afirmou Albuquerque. 
 Em defesa do pacote, o ministro ressaltou que o Brasil terá de ter  aumento de 35% na geração de energia em dez anos. Ainda segundo ele,  investimentos na instalação de infraestrutura para atender à demanda do  novo mercado de gás natural devem movimentar R$ 34 bilhões até 2032.
 O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse acreditar que a Petrobrás e o  Cade não serão contrários à proposta de saída da companhia do mercado  de distribuição. “Estamos muito mais preocupados com os brasileiros do  que com monopolistas. O Cade não vai impedir algo a favor da  concorrência, e acho que o presidente da Petrobrás também não será  contra”, disse. 
Consumidores livres. O pacote visa a incentivar maior liberdade  aos grandes consumidores para adquirir o gás natural de  comercializadores e produtores. Se houver alguma alteração nos contratos  com as distribuidoras, ela não será imposta pelos Estados, mas  negociada entre as partes. Se a revisão contratual trouxer algum  prejuízo para a empresa, haverá compensações – financiadas, sobretudo,  pelos recursos do Programa de Fortalecimento dos Estados (PFE).  Procurada, a Abegás informou que vai aguardar a publicação das medidas  para se pronunciar.
 Os recursos que o governo vai transferir aos Estados são provenientes  principalmente do Fundo Social do Pré-Sal. Criado em 2010 para ser uma  poupança para o futuro, o fundo visa financiar o desenvolvimento do País  com investimentos em saúde e educação. Hoje, 100% das receitas do fundo  pertencem à União, mas, com o plano do gás, a ideia é dividir esses  recursos com Estados.
 A estimativa é que o fundo tenha R$ 17 bilhões até 2020, mas ele terá  ainda mais dinheiro no futuro a partir das receitas dos leilões dos  últimos anos e dos previstos para o fim de 2019.
 As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.