Mourão não diz inverdades sobre a Amazônia

    A Amazônia na encruzilhada mundial de grandes interesses geopolíticos, comerciais, científicos e financeiros.

    Ao comentar a carta de 38 executivos de grandes empresas nacionais e multinacionais com pedido de providências do governo contra o desmatamento na Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão ponderou que a região é alvo de disputa geopolítica e que incomoda os críticos o fato de o Brasil despontar em breve como a maior potência agrícola do mundo. E acrescentou que os incomodados com a ascensão do Brasil buscam impedir que a produção agropecuária do País evolua.

    Não há uma única inverdade nem uma só novidade nas observações de Mourão. A Bacia do Amazonas é cobiçada desde o Tratado de Tordesilhas (1494) e a presença das três antigas Guianas – francesa, holandesa e inglesa – na fronteira setentrional do Brasil é o testemunho da história de cobiça de todos os impérios coloniais pela natureza exuberante da região.

    Athur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão, escreveu o livro Como vencer um debate sem precisar ter razão, que parece orientar integrantes do atual governo do Brasil e parte dos seus críticos.

    Mas a declaração foi suficiente para desencadear uma tempestade de críticas contra ele e o governo. Aqui mesmo, nesta Folha, um articulista chegou a atribuir os argumentos de Mourão à geopolítica de general de pijama, ufanismo de liberal gagá e ignorância do que se passa no mundo. Não fosse o articulista em questão crítico do atual governo, seria de se imaginar que se inspirara na obra Como vencer um debate sem precisar ter razão, do filósofo alemão Schopenhauer, livro de cabeceira do ideólogo da hora no Palácio do Planalto.

    Cobiça, inveja, curiosidade e interesse são substantivos que movem tantos quantos no mundo manifestam opiniões sobre a Amazônia. A indiferença foi o único sentimento que não percebi em relação à Amazônia nas viagens oficiais internacionais como presidente da Câmara dos Deputados, ou ministro em quatro pastas que ocupei.

    O governo erra ao adotar uma atitude defensiva ou beligerante quando trata do tema Amazônia. Está certo ao repudiar qualquer tese de limitação da soberania do Brasil, mas peca ao não promover um esforço que reúna competência diplomática e científica para explicar a Amazônia, esforço que carece de autoridade e credibilidade, infelizmente em declínio no Itamaraty.

    O estado do Amazonas isolado tem mais florestas do que os territórios somados da França, Alemanha, Noruega, Holanda e Dinamarca, campeões do ambientalismo interesseiro. Em que país da Europa o agricultor destina 80% da área de sua propriedade para proteção ambiental? Em nenhum, no mundo isso só acontece na Amazônia brasileira. A lei europeia não obriga seus fazendeiros a destinarem um mísero hectare para a proteção do meio ambiente. Aqui, 80% do Amapá e 70% de Roraima estão imobilizados em unidades de conservação e terras indígenas, e do que resta com potencial de aproveitamento para a agricultura ou pecuária 80% são reserva legal.

    Em resumo: a Amazônia está protegida por terra, mar e ar e não se pode confundir atividades ilegais com a ocupação laboriosa e secular de brasileiros honrados e trabalhadores que vivem e produzem na região mais abandonada, mais pobre e mais incompreendida da Pátria.

    *Aldo Rebelo é jornalista e foi presidente da Câmara dos Deputados, relator no Novo Código Florestal e ministro de Estado da Secretaria de Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência Tecnologia e Inovação e da Defesa.

    Aldo Rebelo
    Aldo Rebelo é jornalista, foi presidente da Câmara dos Deputados; ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência e Tecnologia e Inovação e da Defesa nos governos Lula e Dilma.

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    4 COMENTÁRIOS

    1. Aldo Rebelo, lhe confesso que seu artigo eu só acredito porque vem de uma pessoa como você, que além da reconhecida competência , é dotado de conhecimento empírico, pelos nobres cargos que exerceu. Grande abraço.

    2. É verdade Ministro! Temos interesses outros que não a preservação ambiental por parte das grandes potências. Mas, temos que convir, esse atual Ministro do Meio Ambiente É um desastre e dá todos os motivos para esse tipo de discurso.

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