O mercado, o governo, a oposição e a mídia apontam fracasso no leilão do pré-sal. A Petrobras salvou o governo. E se ela fosse privada?
O resultado do leilão dos campos do pré-sal foi interpretado pelo mercado, pelo governo, pela oposição, e pela mídia como um retumbante fracasso. Salvo pela opinião isolada de analistas abertamente governistas, ninguém questiona a enorme quebra de expectativa em relação aos números alcançados pelo leilão da chamada cessão onerosa.
Vejamos os números: das 14 empresas inscritas para o leilão, apenas 7 se apresentaram; das 7, apenas 3 fizeram o lance mínimo, entre elas a Petrobras, que arrematou 90% do total ofertado, dividindo os restantes 10% com duas sócias chinesas, que se apresentaram provavelmente a partir do apelo do presidente Jair Bolsonaro ao presidente chinês Xi Jinping. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o pedido de Bolsonaro, de acordo com fontes próximas do governo, teria sido feito em Pequim, durante visita oficial à China. Bolsonaro já teria informação sobre o possível fiasco do leilão.
O governo projetava arrecadar R$106 bilhões, mas só conseguiu R$69,9 bilhões. O principal problema foi apontado pelo ministro da Fazenda, Paulo Guedes, que registrou a frustração numa frase: “tivemos uma dificuldade enorme para, no final, vender de nós para nós mesmos”. E emendou com um comentário revelador da surpresa com a ausência das empresas estrangeiras: “Estou apavorado é com o seguinte: os 17 gigantes mundiais não compareceram. Não vieram”.
O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, buscou amenizar a sensação de frustração qualificando o leilão como um “sucesso”. O ministro destacou o valor arrecadado de R$79 bilhões no ano, segundo ele o maior já registrado no mundo.
A verdade é que o governo tirou o dinheiro de um bolso e passou para o outro, já que a Petrobras é uma empresa do governo. Mas para Guedes poderia ter sido muito pior. E se a Petrobras fosse privada: quem salvaria o governo do fracasso no leilão do pré-sal? Os fatos demonstram que ninguém salvaria: o leilão seria zerado.
Especialistas em matéria de petróleo apontam possíveis falhas na preparação do leilão, entre elas o elevado bônus pedido pelo governo, na clara intenção de fazer caixa para fechar as contas de 2019, o que teria espantado alguns investidores. Ainda há quem aponte a incerteza sobre o volume da indenização à Petrobras por parte dos investidores. A possível judicialização da demanda criou dúvidas e afastou as empresas.
Outra infeliz coincidência foi o lançamento das ações da gigante saudita de petróleo Saudi Aramco, fato que atraiu e concentrou a atenção dos investidores. Além disso, o mercado não registra uma forte demanda por novas concessões na área de petróleo no mundo.
Não faz muito, os debates sobre o futuro dos combustíveis fósseis eram marcados pelo fantasma do fim da era do petróleo pelo esgotamento de suas reservas. As alternativas renováveis de energia de biomassa, a energia eólica e solar; o fenômeno de automóveis movidos a eletricidade, tudo isso recolocou a discussão em outra perspectiva. Certa vez, o ex-ministro do petróleo da Arábia Saudita, Ahmed Zaki Yamani, fez famosa sua frase segundo a qual a idade da pedra não acabara por falta de pedra. Foi a mais séria e duradoura advertência sobre o destino da era dos hidrocarbonetos.
Foi o único artigo que li, no qual se fez uma análise do leilão, mostrando as diversas faces políticas e econômicas envolvidas; inclusive, a partir do título da matéria, sobre a importância de não se privatizar a Petrobrás, esta grande empresa nacional. Parabéns !!!
O BRASIL está à deriva. Sem GOVERNO e com a bússola quebrada.