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Paula Felix e Tulio Kruse / Agência Estado
Um em cada cinco brasileiros está obeso, aumento de 68% de 2006 a 2018,
conforme pesquisa do Ministério da Saúde feita em 2018 e divulgada nesta
quinta-feira, 25. O índice de obesidade passou de 11,8% para 19,8% e as
faixas etárias entre 25 e 34 anos (84,2%) e de 35 a 44 anos (81,1%)
foram as que registraram maior avanço. Segundo o estudo, mulheres têm
maior taxa de obesidade (20,7%) do que homens (18,7%). Por outro lado, o
levantamento mostra o País mais saudável, com queda no consumo de
bebidas artificiais, aumento no tempo de atividades físicas e redução do
tabagismo.
Os dados são da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção
para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Mais da metade
da população (55,7%) está acima do peso, e o indicador é 30,8% maior do
que o registrado em 2006 (42,6%). Nesse caso, a prevalência é maior na
população entre 18 e 24 anos.
Na lista de excesso de peso entra o advogado Matheus Pereira, de 46
anos, que já chegou a perder 43 quilos por meio de um programa de
emagrecimento. Agora, com 135, tenta emagrecer outra vez. “Em 2017,
quebrei a perna e fiquei um mês no hospital. Engordei 20 quilos.” Quando
chegou aos 147 quilos, resolveu mudar hábitos. “Comecei a fazer
crossfit há seis meses, vou de segunda-feira a sábado e há três meses
voltei aos Vigilantes do Peso. Minha meta é 80 quilos”, conta.
Para ele, o ganho de peso não tem relação apenas com a alimentação.
“Isso é um reflexo da nossa sociedade. Temos uma vida atribulada,
queremos vencer na vida e não conseguimos comer bem”, afirma Pereira.
“Fui relapso com a minha saúde. Agora, como salada, legumes e não mais
comida industrializada, que eu comia aos montes.”
Desde 2015, o índice de obesidade no País se mantinha estável em 18,9% –
o que, para pesquisadores, pode ser só uma flutuação em meio a altas.
“A obesidade cresce entre adultos de 25 a 34 anos e é mais prevalente na
população com baixa escolaridade. Podemos observar que, na população
com até oito anos de ensino, o indicador é de 25%”, afirma o secretário
de Vigilância em Saúde do ministério, Wanderson Kleber. “O indicador é
de 15,8% para quem tem 12 anos ou mais de estudo.”
As informações sobre obesidade e excesso de peso levaram em consideração
o Índice de Massa Corporal (IMC), calculado quando se divide o peso
pela altura ao quadrado. Se o valor ficar entre 18,5 e 24,99,
considera-se normal – a obesidade é diagnosticada a partir de 30. Para a
pesquisa, foram ouvidas 52.395 pessoas com mais de 18 anos das 26
capitais e Brasília.
Melhores hábitos
“A população, por outro lado, tem ampliado a adoção de hábitos
saudáveis, como o consumo reduzido de refrigerantes e bebidas
artificiais, aumento no consumo de frutas e hortaliças e na prática de
atividade física e também redução do hábito do tabagismo”, afirma
Kleber.
Entre 2008 e 2018, foi registrado aumento de 15,5% no consumo regular de
frutas e hortaliças. O consumo é mais frequente entre as mulheres
(27,2%) do que entre os homens (18,4%).
Já em relação a 2009, a prática de atividades físicas cresceu 25,7%. “Os
dados apontam que a prática de alguma atividade física no tempo livre é
maior entre os homens (45,4%) do que entre as mulheres (31,8%)”, de
acordo com o ministério. Na evolução por faixa etária, o aumento é mais
expressivo na população de 35 a 44 anos.
Ana Maria Malik, coordenadora do programa GV Saúde da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), alerta no entanto que fazer atividade física uma vez por
semana “não é regularidade”. “Nos municípios onde a longevidade é maior,
as pessoas não vão à academia, elas têm a vida mais saudável, se
exercitam como parte da rotina diária.”
O consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas entre os adultos recuou
53,4% no período de 2007 a 2018. Mesmo assim, o ministério alerta para
“aumento maior na obesidade em decorrência do consumo muito elevado de
alimentos ultraprocessados, de alto teor de gordura e açúcar”.
Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo (USP), diz que as pesquisas apontam os
alimentos ultraprocessados como principal causa da obesidade no mundo.
Ele é coordenador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e
Saúde, que supervisiona a coleta de dados do estudo do governo. “O que
temos visto como tendência é que as pessoas estão cozinhando menos,
preparando menos os próprios alimentos. Elas até podem estar comendo
mais frutas, só que também comem mais alimentos ultraprocessados.” A
obesidade, segundo Monteiro, é “uma das doenças mais difíceis de tratar”
e a melhor estratégia é a prevenção.
Coordenador do Centro Especializado em Obesidade do Hospital Oswaldo
Cruz, Ricardo Cohen destaca que alimentação saudável e exercício físico
são medidas importantes para prevenir a doença, mas não para tratar quem
já tem essa condição – foco central da Vigitel. “A prevalência só vai
subir até que se leve a sério a obesidade como uma doença. Não é
comportamental, não é estético, não é psicológico. É como o câncer.” As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.