Lula na China pela quarta vez

    (Foto: www.uepg.com.br)

    Entre os dias 12 e 13 maio o Presidente Lula fez sua quarta visita à China como chefe de Estado e a segunda desde que retornou à presidência em 2023. Lula esteve na China para participar da Cúpula China-Celac que ocorreu no mesmo período e aproveitou para fazer sua quarta visita de Estado àquele país.

    As relações Brasil-China vêm ganhando um peso cada vez maior nos últimos anos. Segundo afirmou o Presidente na visita, a China saltou da 14ª para o 5ª posição  no ranking de investimento direto no Brasil e já é nosso maior investidor asiático, com um estoque de investimentos de US$ 54 bilhões. Em 2024, o Brasil direcionou 28% de suas exportações para a China o que respondeu 41,4% do superávit comercial brasileiro. Apenas três produtos (soja – 33,4%, Petróleo – 21,2% e Minério de Ferro – 21,0%) representam 75,6% de tudo o que o Brasil vende para a China, de modo que a diversificação de nossas exportações para aquele país é um objetivo importante na agenda do governo brasileiro com os chineses.

    A cooperação entre Brasil e China na área de ciência e tecnologia e pesquisa e desenvolvimento também é muito importante e vem se ampliando a cada ano.  É um ponto de interesse do Brasil em seu esforço de expandir seu parque industrial e tecnológico para as indústrias típicas da chamada 4ª Revolução Industrial, que incluem, entre outras, Inteligência Artificial e semicondutores.

    A China vem direcionando seu esforço tecnológico para três áreas essenciais para o desenvolvimento de tecnologias genéricas avançadas que podem ser aplicadas de forma transversal, não apenas nos diversos segmentos da economia mas também na administração pública e nas políticas sociais, desde o combate à pobreza no campo até a exploração do espaço sideral. Trata-se do triângulo formado pela Inteligência Artificial, Base de Dados e Comunicação. Nessas três áreas a China está muito avançada e poderá em breve superar seus concorrentes internacionais.

    O que ainda dificulta a China tornar-se a líder mundial nessas tecnologias é o acesso aos semicondutores mais avançados, insumo essencial para essas três áreas, que vem sendo dificultado pelos Estados Unidos. Tais empecilhos, entretanto, ao invés de atrasarem o desenvolvimento da China estão servindo para que o país acelere ainda mais sua capacidade tecnológica para a produção de semicondutores. As empresas chinesas, na área já estão produzindo semicondutores com no máximo dois anos de defasagem em relação às líderes mundiais,  diferença essa que deve ser eliminada nos próximos anos.

    Entre os acordos assinados e anúncios de investimentos feitos durante a visita algumas dessas áreas foram contempladas, além de anúncios de investimentos em setores de serviços e energias renováveis. Foram assinados, na ocasião, 20 atos de cooperação em setores como agricultura, ciência e tecnologia e finanças.

    A Apex, que participou da visita, anunciou investimentos de empresas chinesas em território nacional de R$ 27 bilhões.  A Envision divulgou investimento de R$ 5 bilhões num parque industrial para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF) e hidrogênio verde. A fabricante de veículos elétricos Great Wall Motors (GWM) também anunciou investimentos de R$ 6 bilhões, assim como a CGN, com aporte para a construção de uma rede de energia renovável no Piaui. A Meituan, líder mundial no mercado de entregas declarou investimentos de R$ 5,6 bilhões por meio de seu braço internacional Keeta, para concorrer com o IFood. A Mixue, a maior rede mundial de fast-food, com 45 mil lojas vai comprar frutas do Brasil para a produção de sorvetes e bebidas e informou para isso suporte de R$ 3,2 bilhões.  O grupo minerador Baiyin Nonferrous também dirigiu investimento R$ 2,4 bilhões na compra de uma mina de cobre em Alagoas.

    Na área de alta tecnologia foram anunciados diversos acordos. Foi assinado o Memorando de Entendimento sobre o Reforço da Cooperação em Inteligência Artificial com o objetivo de “Realizar esforços conjuntos, intercâmbios técnicos e cooperação na formação de talentos entre universidades, instituições de pesquisa e empresas de ambos os países, promovendo o estabelecimento de um laboratório conjunto de IA para fortalecer as capacidades de pesquisa e inovação no setor.” O acordo prevê cooperação na Infraestrutura de IA, construção de bases de dados de alta qualidade e estabelecimento de bases para o desenvolvimento de Inteligência Artificial.

    A China já lidera a produção científica e a quantidade de patentes em IA. Ainda nessa área de alta tecnologia, a fabricante de semicondutores Longsys anunciou a construção de unidades em São Paulo e Manaus. Também foi assinado um memorando de entendimento para a cooperação em inteligência artificial na agricultura e outro de entendimento (2025-2030) sobre cooperação em Agricultura Familiar Moderna e Modernização Agrícola para realização de esforços conjuntos para o uso de maquinário nas pequenas e médias propriedades do campo brasileiro.

    Na área do comércio, o governo chinês deu autorização para a importação de cinco produtos agropecuários brasileiros (miúdos de frango, carne de pata, carne de peru, grãos derivados da indústria do etanol de milho (DDG). Se incluídos os pescados liberados no final de abril temos um mercado US$ 20 aberto para os exportadores brasileiros, conforme informou o Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que participou da comitiva presidencial.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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