Ecologia sem justiça social: a polêmica em torno da Margem Equatorial

    (Foto: horadopovo.com.br)

    Uma das causas da debacle da chamada esquerda liberal nas eleições recentes nos Estados Unidos e na Alemanha foi a defesa de agendas vistas como contrárias ao crescimento econômico por parte da população. A principal delas é agenda ambientalista. Não por acaso, Trump atacou durante a campanha eleitoral de 2024 a agenda ambiental dos democratas, prometendo, se eleito, incentivar a perfuração de novos poços de petróleo e a reabertura de usinas de geração de energia movidas a carvão e petróleo. Particularmente para os estados produtores de carvão e petróleo, a agenda ambientalista dos democratas era sinônimo de desemprego e decadência econômica.  Depois de eleito, é o que está fazendo.

    Embora o movimento ambientalista tenha sido muito bem-sucedido em seu esforço de décadas para convencer as pessoas dos riscos do aquecimento global, que são reais, todavia frequentemente exagerados, falhou ao desconsiderar que os custos imediatos de uma transição energética radical recairiam sobre os mais pobres. A chamada descarbonização da economia, sem a existência de alternativas economicamente viáveis, resulta em custos mais elevados de produção que fatalmente serão transferidos para os preços de tudo que se consome.  Malthus dizia que o banquete da natureza não foi feito para os pobres. De certa forma o movimento ambientalista quando radicaliza sua posição em defesa da natureza, excluindo os pobres de sua equação, acaba, mesmo que involuntariamente, adotando uma posição neomalthusiana, pois preços mais altos, resultantes da descarbonização da economia,  significam exclusão dos mais pobres do consumo. Trata-se de um ecologismo sem justiça social.

    A verdade é que os combustíveis fósseis, com todos seus inconvenientes, são ainda a fonte mais barata de energia. Alternativas como energia solar ou eólica, embora em tese mais baratas, exigem baterias para armazenamento de energia que custam caro e não estão disponíveis na quantidade necessária. Conforme destacou editorial recente do Estadão (02/02/2025), “As baterias disponíveis no mundo seriam suficientes para estocar a energia necessária por apenas alguns minutos. Para expandi-las, seria preciso extrair quantidades colossais de minerais como lítio ou níquel, com terríveis impactos ambientais.”

    Quando se encontrarem alternativas viáveis para a transição energética, ela ocorrerá naturalmente. Não é por outra razão que a China, um dos países que mais investimento tem em energia alternativa, prevê que seu pico de emissão de CO2 somente ocorrerá em 2030. Eles sabem que forçar uma transição radical redundaria em queda abrupta no crescimento do país com impactos relevantes em sua luta para desenvolver o país e eliminar a pobreza.

    Segundo o mesmo editorial do Estadão, “Com subsídios massivos aos renováveis e grandes ônus para o custo de vida, países ricos até têm reduzido as suas emissões de carbono, mas elas continuam a crescer ano a ano, porque o resto do mundo precisa dos combustíveis fósseis para erradicar a pobreza. A ironia é que os militantes que exigem gastos mais exorbitantes com as atuais políticas climáticas e o fim imediato dos combustíveis fósseis costumam ser as pessoas que vocalizam mais estridentemente sua indignação contra as “injustiças socais”.

    Esse é precisamente o caso da atual polêmica em torno da exploração do petróleo na chamada “Margem Equatorial”, que vai do litoral do Amapá até o Rio Grande do Norte. Se de fato houver as reservas de petróleo que se suspeita haver na região, sua exploração comercial traria um grande impulso para o desenvolvimento de algumas regiões mais pobres do Brasil além de garantir a autossuficiência de petróleo para o Brasil na medida em que as reservas do Pré-Sal vão se esgotando. Isso seria uma contribuição e tanto para o desenvolvimento do país, razão pela qual o próprio Presidente Lula vem defendendo o início das pesquisas nas região que, no entanto, estão travadas pelos técnicos do IBAMA, por preocupações ambientais aparentemente sem fundamento. Conforme declarou a presidente da Petrobrás, com as medidas já adotadas pela empresa, caso a licença seja dada, terá o ‘melhor’ aparato de segurança ‘já visto no mundo’.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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