Como o Trump vai lidar com a questão da imigração nos Estados Unidos?

    (Foto: Agência Brasil - EBC)

    Ao lado da inflação, a questão da imigração foi um dos temas centrais da campanha eleitoral de Trump, que prometeu deportar milhões de imigrantes ilegais e, para isso, até utilizar as Forças Armadas dos Estados Unidos. Se foi apenas mais um de seus artifícios para vencer a eleição ou se de fato pretende levar suas promessas adiante é o que veremos depois de 20 de janeiro do próximo ano quando tomar posse. É muito provável que tente fazer alguma coisa a respeito, por mais irracional que possa parecer. Tomar atitudes irracionais quando se sente frustrado é uma das características de Trump. O problema, contudo, é que deportar imigrantes em massa e controlar a inflação são, aparentemente, objetivos conflitantes, tanto quanto elevar tarifas de importação e controlar a inflação. Tanto a importação de mão de obra quanto a de produtos mais baratos do exterior são uma forma de manter os preços mais baixos no mercado local. Afinal, importar produtos feitos no exterior com mão de obra mais barata ou trazer essa mão de obra mais barata para trabalhar no mercado local a fim de reduzir os custos de produção são medidas que se equivalem.

    Caso Trump de fato leve adiante a ideia de deportar milhões de trabalhadores imigrantes ilegais dos Estados Unidos e ainda aumentar as tarifas de importação para 60% para os produtos vindos da China e 20% para o resto do mundo, o resultado inevitável será a elevação do custo da mão de obra local que, na ausência da competição dos importados, irá fatalmente redundar em aumento de preços. E os consumidores norte-americanos não podem querer ao mesmo tempo melhores salários decorrentes da supressão da competição com trabalhadores imigrantes ilegais e produtos mais baratos que eram importados ou produzidos internamente com essa mão de obra mais barata.

    Trump vai ter de decidir o que quer. Preços mais baixos ou salários melhores para os trabalhadores norte-americanos. A única forma de obter as duas coisas simultaneamente seria reduzindo drasticamente a taxa de lucro das empresas norte-americanas, o que obviamente está fora de cogitação.

    Como noticiou o Wall Street Journal (21/11), “Indústria de alimentos se prepara para o impulso de deportação. A crise trabalhista se aproxima enquanto Trump ameaça varrer os imigrantes; 42% não autorizados”. Segundo o jornal, “A indústria agrícola está trabalhando para evitar uma possível crise de mão de obra após ameaças do presidente eleito Donald Trump de lançar uma deportação em massa de imigrantes depois que ele assumir o cargo.

    A cadeia de abastecimento de alimentos dos Estados Unidos depende de uma força de trabalho predominantemente imigrante para alguns de seus trabalhos mais desafiadores, como colher frutas, aplicar pesticidas nas plantações, operar máquinas e abater gado. Cerca de dois terços dos trabalhadores agrícolas dos EUA são estrangeiros e 42% não estão legalmente autorizados a trabalhar no país, de acordo com um relatório do Departamento do Trabalho. Grupos comerciais agrícolas estão pressionando o novo governo para o uso expandido de vistos de trabalho temporário. Algumas fazendas e frigoríficos estão forjando laços mais profundos com recrutadores que podem garantir uma oferta de mão de obra estável. Sindicatos e grupos de defesa dos trabalhadores estão tentando educar os membros sobre seus direitos legais e estão desenvolvendo planos de resposta para usar se as autoridades de imigração invadirem os locais de trabalho. Além dos trabalhadores indocumentados, aqueles com status legal estão preocupados em serem forçados a deixar os EUA. Operadores de frigoríficos e fazendas leiteiras há muito lutam com o governo sobre a política de imigração em uma tentativa de manter o abastecimento de alimentos funcionando. Eles agora estão alertando sobre mudanças na lei que agitam um mercado de trabalho já apertado. Ter um grupo menor de trabalhadores provavelmente levaria as empresas a aumentarem os salários, o que poderia resultar em preços mais altos dos alimentos, disseram executivos”.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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