André Borges / Agência Estado
O governo da Noruega está disposto a dar continuidade às doações que faz
para o Fundo Amazônia, desde que o governo brasileiro garanta que os
recursos continuarão a ser utilizados para financiar ações de combate ao
desmatamento e ao uso sustentável da floresta.
Com R$ 3,186 bilhões injetados no programa brasileiro, que é
administrado pelo BNDES, a Noruega responde por 94% do montante já
colocado na iniciativa, um total de R$ 3,396 bilhões.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, a Embaixada da Noruega no Brasil
afirmou que “continua seu diálogo sobre a governança e a eficiência do
Fundo Amazônia com representantes do governo federal” e deixou clara a
sua intenção de prosseguir com a iniciativa. “Desejamos continuar a
colaboração com o Brasil e faremos nossa parte para manter os pontos
estabelecidos no acordo”, declarou.
A colaboração com o fundo, porém, não se dará de qualquer forma.
“Estamos sempre abertos a discutir propostas que possam melhorar a
eficiência e o impacto do Fundo, desde que esses ajustes contribuam para
reduzir o desmatamento e promover o desenvolvimento sustentável na
região amazônica.”
Na sexta-feira, 28, o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (Cofa), grupo
que define os critérios para aplicação dos recursos na floresta, acabou
extinto por um ato do governo federal, que atingiu centenas de comitês e
comissões no Executivo.
A reportagem questionou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
sobre os reflexos do fim deste grupo e o futuro do Fundo Amazônia. O
ministro não deu nenhum detalhe e limitou-se a dizer que “esse assunto
está em aberto ainda”.
A Embaixada da Alemanha, segundo doador do fundo, que já aportou R$ 192,6 milhões no programa, não se manifestou sobre o tema.
Durante viagem ao G-20, o presidente Jair Bolsonaro reagiu a declarações
dos governos da Alemanha e França sobre questões de desmatamento na
Amazônia, o que causou mal-estar e lançou dúvidas sobre a continuidade
do programa. Acordos comerciais entre a União Europeia e o Mercosul, no
entanto, passaram a ser vistos como uma nova plataforma para negociações
e exigências sobre acordos ambientais.
Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo em maio, o governo
Jair Bolsonaro trabalha na edição de um novo decreto para alterar as
normas do fundo e permitir que uma parte de seus recursos possa ser
usada para pagar indenizações a donos de propriedades privadas que vivam
em áreas de unidades de conservação. Hoje essa utilização é proibida
conforme previsto no próprio regimento do fundo, que é administrado pelo
BNDES.
As intenções do governo de mudar as regras do fundo sem um acordo prévio
dos dois países foi mal recebida por seus representantes. O Brasil tem
independência para escolher os programas que serão apoiados pelos
recursos. Essas iniciativas, porém, são monitoradas pelos doadores,
assim como as taxas de desmatamento do País. O compromisso é que o
Brasil apresente um desmatamento anual inferior à taxa de 8.143 km² por
ano na região, para ter acesso aos recursos. Se superar essa marca, fica
impedido de utilizá-los.
As regras do fundo são claras sobre a aplicação direta na proteção das
florestas e não em regularização fundiária. Na região amazônica,
predominam os casos de ocupação irregular por grileiros de terra.
Em defesa do Fundo Amazônia e da continuidade e do programa, a
Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES) e a Associação dos
Servidores Públicos do Ibama e ICMBio (Asibama) lançaram um portal para
divulgar informações e chamar a atenção para o tema. Em seu manifesto,
os organizadores lembram que, depois de dez anos desde sua criação, o
fundo se consolidou “como um dos instrumentos financeiros mais
eficientes e reconhecidos, no cenário nacional e internacional, em
termos de transparência, governança participativa, diversidade de
beneficiários, auditorias e avaliações, e resulta dos e impactos
concretos já alcançados”.
A gestão do Fundo Amazônia virou foco de uma crise, depois que Ricardo
Salles declarou ter encontrado “fragilidades na governança e
implementação” dos projetos do fundo em contratações feitas pelo BNDES.
Paralelamente, o banco público, que administra os recursos, afastou a
chefe do Departamento de Meio Ambiente, Daniela Baccas. Inconformado com
a decisão, Gabriel Visconti, chefe de Daniela e responsável pela gestão
pública e socioambiental do BNDES, pediu para deixar o cargo.
“O Fundo Amazônia não é um projeto de governo, mas uma conquista da
sociedade brasileira, fruto de negociações internacionais climáticas,
cujo consenso gira em torno da construção de um modelo economicamente
sustentável na Amazônia que inclua, em sua concepção, os interesses dos
povos originários e tradicionais que vivem para e pela floresta em pé”,
declaram a Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES) e a Associação
dos Servidores Públicos do Ibama e ICMBio (Asibama).