Um dos fatos que mais chamou a atenção nas finanças globais neste mês de janeiro foi a queda do valor do dólar em praticamente todo o mundo. Depois de alcançar uma valorização história em setembro de 2022, quando o dxy, um indicador da força do dólar em relação a outras moedas, estava no nível mais alto em 20 anos – o iene havia caído; a libra em um ponto parecia estar correndo em direção à paridade com o dólar; o euro ter passado alguns breves períodos abaixo dele – o dólar começou a perder força e o mundo respirou com alívio. Desde então, o dólar enfraqueceu: medido pelo dxy, está agora 10% abaixo de seu pico recente.
Dólar forte, afinal, é bom para os Estados Unidos, mas um grande problema para o resto do mundo. Como observou a revista The Economist (12/01), “Um dólar poderoso causa problemas sem fim. Os países mais pobres tendem a tomar empréstimos na moeda. Quando se fortalece, essas dívidas se tornam mais pesadas. Mesmo em países ricos, onde os governos emitem principalmente dívida em sua própria moeda, um dólar mais forte pressiona os tomadores de empréstimos corporativos”. Como observou John Connally, secretário do Tesouro dos Estados Unidos em 1971, quando os Estados Unidos acabaram unilateralmente com a paridade dólar-ouro, “Nossa Moeda, Seu Problema”. A crise da dívida na América Latina nos anos 80 foi provocada pela política de valorização do dólar adotada pelos Estados Unidos, em 1979, no governo Reagan.
Por trás da queda do dólar nesses últimos meses, o Financial Times (17/01), aponta a perda de atratividade das ações de Wall Street. Segundo o jornal, “Wall Street perdeu popularidade entre os gestores de fundos mundiais, que cortaram as alocações para o mercado de ações dos Estados Unidos para o nível mais baixo dos últimos 17 anos, e têm preferido buscar oportunidades na Europa e em ações de mercados emergentes”. Ainda segundo o jornal, “Gigantes do setor de tecnologia, como Apple, Microsoft e a Alphabet, proprietária do Google, assim como a fabricante de carros elétricos Tesla e a fabricante de chips Nvidia, registraram enormes ganhos a partir das baixas do mercado de 2020. A recuperação de Wall Street se reverteu drasticamente no ano passado, e o índice geral S&P 500 caiu quase um quinto quando o Fed começou a reduzir as medidas que tinham levantado os mercados. Hoje, mais da metade dos 253 gestores de fundos entrevistados, que supervisionam ativos combinados de US$ 710 bilhões, disseram esperar que o S&P 500 seja negociado abaixo do nível de 4 mil pontos no fim do ano, enquanto 37% previram que o principal índice de referência do mercado dos EUA fecharia 2023 acima dessa marca.
Esse alívio, contudo, tende a ser temporário, devido a uma curiosa característica do dólar. A moeda americana tende a se valorizar quando a economia vai bem, mas também apresenta a mesma tendência quando a economia vai mal. Conforme observou o mesmo Financial Times (17/01), “Tudo se resume à posição única do dólar nos mercados de câmbio globais, o que permite que ele se valorize em dois ambientes opostos. Em parte por causa de seu status de moeda de reserva global, ele se sai bem quando o mundo não está indo bem. Nesse cenário, os investidores querem a relativa liquidez e segurança dos ativos americanos, especialmente os títulos do Tesouro. Este tende a ser o caso mesmo quando tais choques são cultivados em casa, como aconteceu após a crise do teto da dívida dos EUA em 2011. Ao mesmo tempo, porém, o dólar também se fortalece quando o crescimento econômico dos EUA é robusto – e especificamente mais do que seus pares. Isso geralmente anda de mãos dadas com expectativas de rendimentos relativamente mais atraentes nos EUA e retornos de ações que aumentam a demanda por dólares”.
A revista “The Economist” (12/01) vai na mesma linha: “Infelizmente, o alívio pode ser temporário. Para ver o porquê, considere as fontes da recente força do dólar. Uma delas é a política monetária. Ao longo de 2022, o Federal Reserve dos Estados Unidos elevou as taxas mais alto e mais rápido do que outros bancos centrais. Isso fez do dólar um bom alvo para um “carry trade”: vender uma moeda de baixo rendimento para comprar uma de alto rendimento e embolsar a diferença. Uma segunda fonte é o medo. A invasão da Ucrânia pela Rússia, a política insustentável de “cobiça zero” da China e a oscilação da economia global em direção à recessão aumentaram os níveis de ansiedade dos mercados. Em tempos de ansiedade, os investidores tendem a buscar a segurança percebida dos ativos americanos. Uma fonte final é a economia da América. Em parte devido aos preços mais altos da energia e ao status do país como exportador de energia, parece estar em melhor forma do que grande parte do resto do mundo”.