Enquanto os olhos do mundo se voltam para a nova crise no Oriente Médio, a guerra na Ucrânia prossegue seu curso sangrento. Os únicos que continuam ganhando são os fabricantes de armas, cada vez mais sofisticadas e mortais. Conforme informou o New York Times (17/10), “As forças da Ucrânia atacaram duas bases aéreas em território controlado pela Rússia na terça-feira com mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA, que foram um dos últimos grandes sistemas de armas que Kiev buscou dos Estados Unidos, de acordo com duas autoridades americanas e um parlamentar ucraniano que postaram sobre o ataque nas redes sociais. Foram os primeiros ataques com uma arma conhecida como ATACMS – para sistemas avançados de mísseis táticos de longo alcance do Exército – que o presidente Biden há muito relutava em fornecer por medo de que pudesse agravar o conflito com a Rússia. Mas Biden disse ao presidente Volodymyr Zelensky da Ucrânia, durante visita à Casa Branca em setembro, que havia concordado em fornecer os mísseis, embora fosse uma versão de alcance limitado, de acordo com autoridades familiarizadas com a conversa. A versão do míssil ATACM enviada aos ucranianos, em número que as autoridades disseram ser pequeno, está equipada com munições de fragmentação – bombas menores que podem causar danos numa vasta área. “O ATACMS já está conosco”, escreveu um legislador ucraniano, Oleksiy Goncharenko, na terça-feira no X, a plataforma de mídia social anteriormente conhecida como Twitter. Ele disse que um campo de aviação na cidade de Berdiansk, controlada pela Rússia, “foi atingido por eles”.
Apesar do fornecimento de equipamentos mais modernos e de maior alcance pelos Estados Unidos, a esperada ofensiva ucraniana para retomar o controle de áreas dominadas pelos russos no leste da Ucrânia nesta primavera e outono no hemisfério norte foi um fracasso, não conseguindo romper as linhas de defesa russas e muito menos cortar suas rotas de suprimento.
Com a chegada do inverno, que poderá ser mais rigoroso que o do ano passado, a tendência é essa ofensiva ser paralisada uma vez que a guerra na Ucrânia é dominada por infantaria, tanques e artilharia, que dependem muito das condições do tempo e do terreno para avançar. Os ucranianos, por seu turno, estarão novamente às voltas com os ataques russos à sua rede de energia, vital para o aquecimento nos meses de inverno.
Apesar da resistência dos ucranianos, um acordo de paz que parta da aceitação do domínio russo sobre as áreas ocupadas no leste da Ucrânia mostra-se como o cenário mais viável para o encerramento rápido dos conflitos. A alternativa a isso será uma guerra que deverá se prolongar pelos próximos anos sem que a Ucrânia consiga desalojar os russos das áreas ocupadas, cenário esse que só interessa ao complexo industrial-militar-armamentista-propagandístico norte-americano.
O único fato novo que poderia mudar esse cenário seria uma eventual vitória de Trump nas eleições americanas em novembro do próximo ano, caso consiga sair candidato. Apesar do apoio americano à Ucrânia e, agora, a Israel, ter um consenso bipartidário é crescente resistência de uma parte dos republicanos e mesmo da opinião pública norte-americana em continuar a fornecer ajuda militar e financeira para a Ucrânia indefinidamente. Biden acaba de pedir ao Congresso a aprovação de mais um pacote de ajuda de US$ 105 bilhões para fornecer armas para a Ucrânia e, agora, Israel. Caso Trump vença as próximas eleições, sua tendência isolacionista, já vista durante o período em que esteve à frente do poder executivo norte-americano, entre 2016 e 2019, pode levá-lo a se desinteressar pela sorte da Ucrânia e da própria Europa. Talvez seja nisso que Putin esteja apostando.