Quem sofre com as guerras raramente são os que as provocam, conduzem e financiam. Segundo relatório publicado pela ONG britânica Oxfam, a insegurança alimentar causada por conflitos violentos atingiu níveis recordes no ano passado, matando entre 7 mil e 21 mil pessoas por dia em países afetados por conflitos. Segundo a ONG, a causa da fome não são apenas os conflitos em si, mas também o uso de alimentos como arma e os bloqueios à ajuda humanitária.
De acordo com Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil, ao jornal Valor Econômico (16/10), “Os países envolvidos em guerras continuam atacando infraestruturas alimentares intencionalmente e destruindo recursos hídricos e energéticos que suportam a geração de alimento”. Segundo o jornal, “O relatório destaca as guerras de vários anos que acontecem na Etiópia, Nigéria, Somália, Síria e Iêmen, assim como os conflitos mais recentes, como a guerra entre Hamas e Israel na Faixa de Gaza, iniciada em 2023, e o conflito entre Rússia e Ucrânia, que começou em 2022. Os países com as maiores populações em crise alimentar em 2023 foram a República Democrática do Congo, com 25,8 milhões de pessoas; Nigéria, com 24,9 milhões; Sudão, com 20,3 milhões; Etiópia, com 19,7 milhões e Iêmen, com 18 milhões.”.
O relatório destaca que “Quase meio milhão de pessoas em Gaza — onde atualmente 83% da ajuda alimentar necessária não chega — e mais de 750 mil no Sudão estão morrendo de fome devido aos efeitos mortais das guerras sobre os alimentos, cujos impactos provavelmente perdurarão por gerações.” O relatório mostra, ainda, que as guerras também têm sido uma das principais causas do deslocamento forçado atualmente, que atingiu globalmente um nível recorde de mais de 117 milhões de pessoas, sendo 77% delas em países afetados por crises de fome. Destaca ainda, que não é à toa que a maioria dos países em conflito estudados (34 dos 54) são ricos em recursos naturais, dependendo fortemente da exportação de produtos primários. Por exemplo, 95% dos ganhos de exportação do Sudão vêm de ouro e gado, 87% do Sudão do Sul vêm de produtos petrolíferos e quase 70% de Burundi vêm do café.”.
Joyce Msuya, subsecretária-geral interina para Assuntos Humanitários e coordenadora de ajuda emergencial da ONU, afirmou em post no X (antigo Twiter) que “Toda a população do norte de Gaza corre o risco de morrer”. Segundo o site RT News, “Israel atingiu hospitais na região, deteve profissionais de saúde e impediu que os socorristas resgatassem pessoas presas sob os escombros. Os abrigos foram esvaziados e incendiados (…) famílias foram separadas e homens e meninos levados pelos caminhões”, disse ela, acrescentando: “esse flagrante desrespeito pela humanidade básica e pelas leis da guerra deve parar”.