Desde a administração Trump, o governo dos Estados Unidos vem acusando empresas chinesas na área de tecnologia de pôr em risco a segurança e a privacidade de dados dos internautas norte-americanos. Primeiro foram os equipamentos para as redes 5G fornecidos pela empresa chinesa Huawei. Os Estados Unidos não só baniram seus equipamentos do mercado americano, como fizeram uma forte campanha internacional para forçar seus aliados a fazerem o mesmo, afirmando, sem nunca ter provado, que os equipamentos de telecomunicações para as redes 5G vendidos pela empresa chinesa tinham “backdoors”, ou seja, portas ocultas ou falhas que o governo chinês poderia utilizar para acessar dados dos usuários americanos,
Depois veio a polêmica com o TikTok, aplicativo pertencente à empresa chinesa ByteDance, com 150 milhões de usuários nos Estados Unidos, pelos mesmos motivos. Primeiro obrigaram a empresa a armazenar os dados dos usuários norte-americanos em território americano, no que a empresa acedeu armazenando os dados em um servidor da americana Oracle. Não satisfeitos, passaram a exigir que a empresa chinesa venda as operações do aplicativo nos Estados Unidos para controladores americanos. Tudo em nome da segurança de dados dos usuários.
Mas todo esse zelo com a privacidade e a proteção dos dados dos internautas é bastante seletivo e, aparentemente, aplica-se apenas aos seus próprios cidadãos, pois quando se trata da segurança de dados dos internautas de outros países onde as BigTechs americanas atuam a conversa é outra. Conforme noticiou o jornal americano Washington Post, em 22/5, “A União Europeia multou a Meta em um recorde de US$ 1,3 bilhão na segunda-feira depois de descobrir que a controladora do Facebook quebrou suas leis de privacidade ao transferir dados de usuários da Europa para os Estados Unidos – uma descoberta que pode ter amplas implicações para as empresas americanas. A Comissão Irlandesa de Proteção de Dados ordenou que a Meta suspendesse todas as transferências de dados pessoais pertencentes a usuários na EU e no Espaço Econômico Europeu – que inclui países não pertencentes à EU como Islândia, Liechtenstein e Noruega — para os Estados Unidos”.
A empresa, entretanto, não se fez de rogada, e protestou contra a decisão, afirmando que “As restrições de transferência de dados correm o risco de dividir a internet “em silos nacionais e regionais, restringindo a economia global e deixando os cidadãos em diferentes países incapazes de acessar muitos dos serviços compartilhados nos quais passamos a confiar”, conforme noticiou o jornal Valor Econômico, em 22/5. Ou seja, não há nenhum problema em transferir os dados dos internautas do mundo todo para os Estados Unidos porque eles são “confiáveis”, mas o mesmo não vale para outros países, nomeadamente a China.
Da mesma forma, os Estados Unidos proibiram não apenas empresas americanas, mas também de outros países, como ASML da Holanda, de exportarem microprocessadores avançados e equipamentos usados em sua produção para a China, também alegando razões de segurança, mas protestaram quando, ao final de maio, os chineses impediram o uso de microprocessadores fabricados pela norte-americana Micron, que tem 25% de seu faturamento na China, em sua infraestrutura, por motivo de sérios riscos de segurança de rede.
O departamento de comércio dos EUA informou que se opõe fortemente à ação, por não ter “nenhuma base de fato”. “Esta ação, juntamente com ataques recentes e ataques a outras empresas americanas, é inconsistente com as afirmações da RPC de que está abrindo seus mercados e está comprometida com uma estrutura regulatória transparente”, disse o departamento de comércio, conforme noticiou o Financial Times (21/5).