Os Estados Unidos estão pressionando a Coréia do Sul a não permitir que os produtores coreanos de semicondutores – a Samsung Eletronics e a SK Hynix – ocupem o espaço deixado pelas empresas americanas no mercado chinês. Depois de proibir que empresas americanas e empresas de outros países que utilizem tecnologia americana exportem microprocessadores e equipamentos para sua produção para a China, os Estados Unidos tentam agora impedir que as empresas da Coréia do Sul preencham o vazio deixado por suas empresas, especialmente a Micron, uma das três empresas dominantes no mercado global de chips de memória DRam, ao lado da sul-coreana Samsung Electronics e SK Hynix. A China continental e Hong Kong geraram 25% da receita de US$ 30,8 bilhões da Micron no ano passado, o que mostra que os Estados Unidos estão dando um tiro no próprio pé ao proibir suas empresas de exportar microprocessadores para a China, que é o maior comprador mundial desses componentes onipresentes na vida moderna.
A viagem do presidente coreano Yoon Suk Yeol a Washington na última semana de abril para a primeira visita de Estado de um líder asiático na presidência de Biden serviu para os Estados Unidos pressionarem o abertamente pró-americano presidente da Coréia do Sul tanto a fornecer armas para a Ucrânia, quanto a se unir aos Estados Unidos em sua cruzada anti-China. Trata-se, contudo, de um jogo de alto risco que a Coréia do Sul fará caso se dobre às pressões americanas, pois além de não ter absolutamente nada a ganhar, terá muito a perder. Entre os países do G20, a Coréia do Sul é o país que mais depende da China como destino de suas exportações. Quase 40% de tudo que a Coréia do Sul exporta vai para a China, percentual superior ao de Japão, Brasil e Austrália, os quatro outros do grupo que destinam mais de 30% de suas exportações para a China.
Se há uma coisa que sempre funcionou bem no leste da Ásia até os Estados Unidos passarem a perturbar o ambiente foi a integração econômica entre os países da região. As cadeias de suprimento formadas por empresas da China, Japão, Coréia do Sul, Austrália e dos Estados Unidos a partir dos anos 2000, quando a China foi admitida na OMC, garantiram duas décadas de prosperidade regional e foram a grande força propulsora da globalização da economia mundial nos últimos 20 anos. Ao tentar desmontar essa cadeia virtuosa com o objetivo de deter o desenvolvimento da China, os Estados Unidos colocam em risco a prosperidade de todos os países da região. Ao submeter-se às pressões de Washington, a Coréia do Sul não tem nada a ganhar, mas muito a perder.