O tema da migração polariza a opinião pública e o establishment político dos Estados Unidos e, por isso, ocupa um lugar importante no debate eleitoral. Não é de estranhar, portanto, que, às vésperas de um novo embate eleitoral, a questão migratória ganhe relevância. Tradicionalmente, o Partido Democrata tem uma posição mais tolerante em relação aos migrantes ilegais que tentam entrar nos Estados Unidos através da fronteira com o México, enquanto o Partido Republicano defende uma política mais dura contra a imigração em geral e contra os imigrantes ilegais em particular. É compreensível, uma vez que o Partido Republicano, sobretudo depois de Trump, apresenta-se como defensor dos interesses da baixa classe média americana, formada, na maior parte, por trabalhadores brancos de baixa qualificação, que veem na concorrência dos trabalhadores migrantes uma das causas de seu infortúnio, além da China, obviamente.
A rigor, não precisaria ser assim, uma vez que a baixa taxa de desemprego, que há cinco anos, exceto 2020, mantém-se inferior a 4%, mostra que não faltam empregos nos Estados Unidos. Além do mais, os postos de trabalho ocupados pelos trabalhadores migrantes em geral não são os que mais atraem os trabalhadores americanos. Provavelmente, pesam mais o preconceito e a xenofobia do que problemas econômicos propriamente ditos, mesmo porque a oferta de serviços públicos gratuitos nos Estados Unidos, que poderiam, em tese, onerar o Estado pela maior presença de migrantes, praticamente não existe. Se o sujeito não tiver um seguro-saúde privado, morre na porta do hospital.
Trump elegeu-se, em 2016, prometendo erguer um muro entre os Estados Unidos e o México para conter a imigração ilegal. Quando no governo, teve dificuldade de levar seu plano adiante por falta de dinheiro, uma vez que sua promessa de fazer o México pagar pelo muro era apenas um blefe. De qualquer modo construiu alguns trechos do muro recorrendo a expedientes orçamentários excepcionais e adotou uma política migratória muito dura contra os imigrantes clandestinos barrados na fronteira, separando, inclusive, pais e filhos menores de idade, inclusive crianças.
De nada adiantou, entretanto, essa política mais dura, pois, para a massa de pobres que vivem no continente americano ao sul do Rio Grande, os Estados Unidos são um magneto irresistível. Como mariposas em volta da lâmpada, mesmo correndo o risco de perder a vida, atiram-se em direção ao que para eles é a única luz no fim do túnel, o único escape possível de uma vida miserável em países estagnados economicamente, com estados disfuncionais e dominados pela violência das gangs e do narcotráfico. E diga-se, de passagem, em grande parte por culpa dos próprios Estados Unidos, que impõem bloqueios econômicos asfixiantes a países que não rezam por sua cartilha imperial, como o caso de Cuba e Venezuela, sendo esta última a principal origem de migrantes ilegais nos Estados Unidos na atualidade.
Conforme informou o Washington Post, em 20/09, “O governo Biden disse na quarta-feira que oferecerá status legal temporário a mais de 470.000 migrantes venezuelanos nos Estados Unidos, anunciando a medida enquanto as autoridades dos EUA lutam para lidar com um influxo fronteiriço no Texas que levou a capacidade de retenção ao limite”. Ainda segundo o jornal, “Autoridades de Nova York, Chicago e outras cidades do norte dos EUA onde os migrantes têm sobrecarregado a capacidade de abrigo e os serviços sociais têm instado Biden a agilizar as autorizações de trabalho para que os recém-chegados possam se sustentar melhor”.
O fato é que, independentemente de quão repressiva ou tolerante for a política norte-americana em relação à imigração clandestina, o fluxo migratório em direção aos Estados Unidos não será contido a não ser que as pessoas tenham alguma perspectiva de uma vida decente em seus próprios países. O grande problema, contudo, é que a política dos Estados Unidos em relação à América Latina sempre foi de exploração, não se importando muito com o que ocorria nos países da região desde que estivessem alinhados com os interesses americanos.
Praticamente todos os golpes de estado ocorridos na América Latina, nos últimos 100 anos, em geral dados pelas oligarquias locais com apoio de militares para manter seus privilégios, tiveram a mão e o apoio dos Estados Unidos. Ditadores sanguinários, como Rafael Trujillo, que governou a República Dominicana entre 1930 e 1961, quando foi assassinado, e que acumulou grande fortuna às custas de seu povo enquanto agia com repressão sobre a oposição, sempre foram recebidos nos Estados Unidos como amigos, educando, inclusive, seus filhos nas academias militares norte-americanas, como foi o caso do próprio Trujillo (a respeito das relações de Trujillo com os Estados Unidos recomenda-se ler o excelente romance de Mario Vargas Llosa, “A Festa do Bode”).