China planeja transformar 90 milhões de hectares em terras agrícolas de alto padrão

    (foto: China 2 Brazil)

    Conforme noticiou o site CompreRural[1], “Em mais um movimento estratégico para reforçar sua segurança alimentar, a China anunciou neste domingo (30/04) um ambicioso plano para desenvolver 90 milhões de hectares de terras agrícolas de alto padrão até 2030. A medida faz parte dos esforços do país para ampliar a produção nacional de grãos e reduzir sua dependência de importações. O plano, divulgado pelo Conselho de Estado da China, prevê que, além da meta principal, até 2030, todas as “terras agrícolas básicas permanentes elegíveis” também sejam convertidas em terras agrícolas de alto padrão até 2035. Esse tipo de terra é protegido contra mudanças de uso não agrícola, sendo essencial para manter uma produção estável de alimentos.”

    As chamadas terras agrícolas de alto padrão – ou bem estruturadas – contam com: Sistema de irrigação eficiente, controle de desastres climáticos, melhoria da qualidade e fertilidade do solo, gestão baseada em tecnologias de informação e agricultura de precisão.

    A China possui atualmente um limite mínimo de 124,33 milhões de hectares de terras aráveis. O objetivo, portanto, é transformar 90 milhões de hectares dessas terras em terras agrícolas de alto padrão. Para o 14° Plano Quinquenal de 2021-2025 a meta estabelecida era de transformação de 71,67 milhões de hectares de terras agrícolas contíguas em terras de alto padrão e manter a produção de grãos acima de 650 milhões de toneladas métricas. Até o final de 2024, cerca de 66,6 milhões de hectares já haviam sido convertidos. O novo plano tem por objetivo, portanto, transformar, nos próximos cinco anos mais 30 milhões de hectares em terras agrícolas de alto padrão.

    Como informou o site, “Paralelamente, o governo chinês também aposta na tecnologia para ampliar a produção. Foi lançado um plano quinquenal de agricultura inteligente (2024-2028), que prevê a adoção de big data, sistemas GPS e inteligência artificial para transformar o setor agrícola. A iniciativa reforça a estratégia da China de reduzir sua vulnerabilidade externa diante de tensões geopolíticas e garantir o abastecimento interno de alimentos. A conversão das terras agrícolas, somada à digitalização do campo, aponta para um futuro de maior autonomia agrícola e segurança alimentar sustentável no país.”

    A China é uma nação com uma cultura agrícola milenar na qual o campesinato sempre teve um papel protagonista. Por seu tamanho, as tensões na relação terra/população determinaram a estabilidade, a queda e o surgimento de várias dinastias. Inclusive, em geral, a primeira política nacional de uma nova dinastia era a redistribuição de terras e a redução de impostos. As revoltas camponesas na segunda metade do século XIX foram fundamentais para a queda da Dinastia Qing (1662-1912) e o advento da República – Revolta dos Taipings (1851-1864), no sul da China, que deixou entre 30 e 50 milhões de mortos e a Revolto dos Nians (1851- 1868) no norte da China. Uma das primeiras medidas da recém-criada República da China, sob a liderança de Sun Yat-Sen, foi promover a reforma agrária, processo que foi aprofundado com o advento da República Popular da China, em 1949, quando 47 milhões de hectares foram distribuídos para cerca de 300 milhões de camponeses pobres na proporção de 0,5 hectare por família.

    O processo de reforma e abertura da China, iniciado em 1978, depois da morte de Mao Tsé-tung e a ascensão ao poder de Deng Xiaoping, começou pelo campo, com a substituição das grandes comunas de agricultores pelo sistema de responsabilidade familiar, na província de Anhui. Pelo novo sistema, cada família era responsável pelos resultados da produção em suas próprias terras e poderiam vender o excedente da produção no mercado, o que provocou um grande salto na produtividade agrícola. A preocupação com a segurança alimentar foi um ponto central para o governo chinês. Em seus sucessivos planos quinquenais, o governo chinês sempre estabeleceu metas claras para a produção de grãos. Em 2024, a produção de grãos da China atingiu um recorde de 706,5 milhões de toneladas, um aumento de 1,6% em relação a 2023.

    Graças ao rápido crescimento da renda no país, o consumo de alimentos, sobretudo proteínas, tem aumentado rapidamente e a China tornou-se, nos últimos anos, um importador líquido de alimentos, sobretudo de soja e milho. Diante das crescentes tensões geopolíticas, a China, que já tem uma meta de autossuficiência alimentar de 95%, vem tomando medidas para depender o menos possível das importações para garantir a segurança alimentar de sua população. Comida, muito mais que uma questão comercial, é uma questão política.


    [1] https://www.comprerural.com/china-vai-transformar-90-milhoes-de-hectares-em-terras-agricolas-para-produzir-graos/

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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