Esqueça o canudinho de plástico. O maior problema ambiental do Brasil é o saneamento básico. As moradias de 100 milhões de pessoas não têm rede de esgoto, e outras 35 milhões não dispõem de água tratada. O resultado dessa catástrofe é uma devastadora poluição do meio ambiente e deterioração, efetiva ou potencial, da saúde de quase a metade da população nacional. Segundo o IBGE, 1.935 (34,7%) dos 5.570 municípios brasileiros sofrem epidemias ou endemias causadas pela ausência de saneamento e isso eleva os custos dos serviços públicos de saúde. Estima-se que cada R$ 1 investido no setor preveniria a economia de R$ 4 apenas no gasto com tratamento de doenças evitáveis. De quebra, o lixo acumulado ao ar livre, que torna cada rua um sambaqui particular, faz da limpeza urbana um dos progressos civilizatórios ainda não universalizados no País.
Tamanho desastre ambiental, embora notório, é paradoxalmente mascarado, silencioso, negligenciado, não atrai o vozerio de ONGs estrangeiras nem mobiliza o poder público – em parte por não ter o charme contemplativo da militância de defesa do planeta, em parte, no que concerne aos governos, por serem obras caras e invisíveis debaixo do solo. O investimento médio anual de R$ 10 bilhões é tão insuficiente que, no ritmo atual, segundo projeção da Confederação Nacional da Indústria, a solução do problema somente ocorrerá em 2060.
As pequenas cidades, as vilas remotas, as favelas podem parecer o hábitat preferencial desse lixão sólido e aquoso que engolfa o Brasil moderno. Porém. mesmo no cinturão industrial mais desenvolvido do País, a Grande São Paulo, a paisagem remete ao tempo dos tigres – escravos encarregados de atirar os dejetos das residências nos cursos d´água mais próximos ou no mar. Um símbolo nacional dessa incúria é Guarulhos, a segunda cidade mais populosa da região e do estado, com 1,35 milhão de habitantes, que trata apenas 7% do esgoto. O resto excrementício é jogado no Rio Tietê – e nele boiam canudinhos de plástico.
Como podemos levar formação para uma consciência ambiental? Se os órgãos públicos nada promovem nesse sentido.