A dificuldade de acabar com uma guerra por procuração

    (foto: cbic.org.br)

    A evolução recente dos acontecimentos torna cada vez mais improvável um acordo que leve ao fim da guerra na Ucrânia em um futuro próximo. Em que pese toda a conversa em torno de um cessar fogo imediato e de um início de negociações para o fim do conflito, a dinâmica da guerra no campo de batalha aponta no sentido contrário, pois as ações militares entre os dois países têm se tornado cada vez mais violentas e destrutivas. A impressão que fica é que cada um dos lados quer chegar à mesa de negociação na posição militar mais vantajosa possível.

    Na madrugada do dia 25 de maio, a Rússia promoveu o maior bombardeio da guerra, com 367 drones e mísseis lançados sobre a Ucrânia, matando 12 pessoas. Segundo o Presidente Vladimir Putin, o ataque foi uma retaliação pela grande onda de ataques de drones da Ucrânia, que somaram mais de 1.500 aparelhos derrubados na Rússia desde a semana anterior. Alguns dias depois a Ucrânia lançou um ousado ataque de drones em quatro aeroportos militares no interior do território russo, danificando 40 aeronaves, comprometendo as capacidades aéreas de Moscou. Alguns dos aviões atingidos não são mais fabricados, tornando difícil ou até impossível sua recuperação.

    Segundo o Wall Street Journal (01/06), “A perda de dezenas de aeronaves de longo alcance vitais para as forças nucleares da Rússia e seus ataques à Ucrânia prejudicariam gravemente o poderio militar russo. A Rússia não produz mais os aviões Tu-95MS ou Tu-22M3 que estavam entre os danificados, de acordo com autoridades de inteligência ucranianas.”. Em conversa com o Presidente Donald Trump, no dia 4 de junho, o Presidente Vladimir Putin teria dito, segundo Trump, que teria que responder ao recente ataque da Ucrânia, diminuindo as perspectivas de paz imediata entre Moscou e Kiev.

    O fato é que qualquer acordo que leve ao fim do conflito precisa lidar com duas questões importantes. A primeira é como alcançar o fim das hostilidades em curso no campo de batalha, o que, como está bem evidente, não é algo tão fácil, pois cada lado quer chegar à mesa de negociação na melhor posição possível. A segunda é como oferecer aos dois lados beligerantes as necessárias garantias de segurança de longo prazo.

    Este segundo ponto é o mais importante e complicado, pois envolve, além dos dois países em conflito, os Estados Unidos e seus aliados da Otan, uma vez que, como se sabe, essa é uma guerra por procuração, uma vez que desde o seu início a questão de fundo era o avanço da Otan até as fronteiras com a Rússia. De nada adiantaria, portanto, um acordo direto entre Rússia e Ucrânia, se as garantias necessárias por parte da Otan, tanto de proteção da Ucrânia, quanto de não expansão da Otan até as fronteiras da Rússia não forem dadas.

    Ao que tudo indica, a Otan e as potências do Ocidente não estão dispostas a dar nem uma nem outra garantia, o que inviabilizaria qualquer acordo. Falamos isso não por hipótese, mas porque de fato foi isso que ocorreu em 2022 quando o Acordo de Istambul, costurado pela Turquia e Nações Unidas, fracassou. O grande problema na ocasião foi que, apesar de Rússia e Ucrânia terem chegado a bons termos para o fim do conflito, as potências ocidentais se negaram as dar as garantias implícitas no acordo tanto de segurança da Ucrânia quanto da não expansão da Otan.

    A verdade, portanto, é que essa guerra já poderia ter acabado há muito tempo não fosse o fato de que há muito mais coisas envolvidas do que a ocupação pelos russos de parte do território da Ucrânia. Por incrível que pareça, essa talvez seja a parte mais fácil de ser resolvida. O grande problema são as garantias que as potências Ocidentais, que sempre estiveram na raiz do conflito, se negam a oferecer para um  e outro lado.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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